Papa Bento XVI renunciou!

A notícia monopolizou os meios de comunicação social, pela sua novidade e ineditismo. Sem que desta decisão houvesse conhecimento prévio, o Santo Padre anunciou a sua já muito próxima resignação e subsequente convocação de um conclave, para eleição do seu sucessor na cátedra petrina.

O gesto, anunciado no tom sereno e humilde que caracteriza os seus depoimentos, foi largamente comentado como traduzindo o cansaço e incapacidade física e uma provável decadência das qualidades intelectuais. Sem negar que tais manifestações de senectude, inevitáveis consequências do envelhecimento, tenham pesado na decisão do nosso Papa, creio que devemos antes sublinhar os seguintes aspectos:

1.A renúncia cria um precedente, lembrando que o exercício de funções, mesmo as da mais alta espiritualidade e inspiradas pelo Absoluto, tem limitações naturais, que devem ser respeitadas.

2.Se outrora o padecimento e decadência psicofísica de um Papa se refugiavam na sombra protectora do palácio pontifício, hoje já não há lugar para essa privacidade e os media tornaram-se uma companhia permanente e testemunha implacável; ou seja, o processo de doença e morte do Papa torna-se num espectáculo, se não lhe for devolvida a dignidade e privacidade através de atempada renúncia.

3.Tal como João Paulo II deu o exemplo do sofrimento partilhado com todos os homens, Bento XVI presta o testemunho de quem, lúcido e responsável, se afasta, para que um sucessor mais robusto possa arrostar com as pesadas tarefas que enfrentam o Vigário de Cristo. São duas atitudes complementares, não opostas, pois é a virtude da humildade que as inspira.

Demos graças a Deus por este extraordinário Papa, teólogo em diálogo com os filósofos, escolar que aprendeu a viver os banhos de multidão, corajoso proclamador da Verdade, anunciador incansável da união entre fé e razão. A sua vida, os seus escritos e, agora, a sua renúncia inscrevem-se luminosamente na história da Igreja.


Walter Osswald

(ex-Presidente da Associação Portuguesa dos Médicos Católicos e da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos)

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